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Um conto de Natal

por Existe um Olhar, em 04.12.23

20181209_162822 presépio.jpg

Sempre que chega o Natal, não resisto a comparar como  se vive hoje e como o vivi quando criança.

Hoje posso dizer que é uma época que me incomoda, que não sinto nada em especial.

Por aqui deixaram de existir os elementos aglutinadores mais importantes , para que se viva esta quadra em pleno, ou seja , a família, uns já partiram para sempre e outros quis a vida que seguissem outros caminhos bem distantes do meu.

Hoje abomino o consumo desenfreado e as multidões que se acotovelam nos centros comerciais para escolherem prendas para dar a alguém que também vai dar, para se enfeitar uma árvore que se deseja bem recheada de papéis e laçarotes coloridos que se rasgam avidamente numa noite em que a maior parte das pessoas nem sequer sabe o que se comemora, embora eu ainda ache maravilhoso o sorriso das crianças que recebem aquele presente tão desejado.

Há uns largos anos atrás, eu e os meus três irmãos, não tínhamos árvore de Natal nem se falava que naquela noite um senhor de barbas brancas desceria pela chaminé para entregar presentes, porque não havia dinheiro para presentes.

Para nós quatro a maior alegria era quando decidíamos fazer o presépio. Com uma cesta íamos ao musgo e ao barro e  laboriosamente fazíamos e desfazíamos cada uma das peças que se iam quebrando quando o barro secava.

Algumas pedras eram cobertas de musgo a fazer de montes, a cabana e a manjedoura eram improvisadas com restos de palha.

Discutíamos qual a melhor posição para os pastores, as ovelhas e galinhas. Desenhávamos com areia fina os caminhos e o regato era uma folha de papel azul, onde obrigatoriamente teria de ser construída uma ponte em barro. A estrela por cima da manjedoura completava  a nossa obra de arte.

Todos os dias mudávamos os bonecos de sítio porque achávamos que estavam cada vez mais próximos. Todos os dias reconstruíamos a ovelha que tinha ficado sem pernas, ou o pastor que se tinha partido ao meio.

Na noite de Natal, vestíamos as melhores roupitas, íamos à missa do galo, (dois quilómetros a pé), bem contentes porque no caminho encontrávamos os nossos colegas e apesar de ser de noite a estrada ganhava vida com o falatório das crianças e dos crescidos.

Todos ansiávamos pelo momento mais importante , aquele em que em fila, íamos beijar o Menino Jesus.

Regressados a casa e junto á lareira, onde tinham ficado a levedar a massa das filhós, a avó e a mãe encarregavam-se da parte doce da noite.

Eu como mais velha estava encarregue de as envolver com açúcar e canela e de lambuzar os dedos naquela mistura açucarada.

Um chazinho bem quente aconchegava-nos o estômago e dormíamos como anjos, não sem antes combinarmos que no dia seguinte teríamos de fazer os reis magos que tinham chegado atrasados.

 

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publicado às 08:38


11 comentários

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De Vagueando a 04.12.2023 às 10:03

Esse Natal morreu, mas gostei da história.
Eu nem sequer consigo descrever o que sinto hoje relativamente ao Natal, gosto da época mas dispenso as lojas apinhadas de gente, a minha familia está reduzida ao mínimo porque os mais velhos já se foram.
As minhas recordações de Natal era o presépio de um primo meu que tinha um gosto fabuloso e todos os anos nos surpreendia com arranjos melhores. E era isso, as pedras, o musgo o barro e, só mais tarde, meados dos anos 90, com a chegada da electricidade a casa, impulsionado por amigos se rendeu a electrificar o presépio, cujo resultado foi incrível. Hoje, a sua idade e saúde frágil, já não lhe permitem montar o seu presépio o que é uma pena.
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De Existe um Olhar a 04.12.2023 às 11:49

Estive indecisa, não sabia se devia publicar este , se um que passei na Lapónia, foi fabuloso, mas dava-me mais trabalho a elaborar o texto
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De Ana D. a 04.12.2023 às 10:37

Obrigada pela linda partilha sobre os verdadeiros valores do Natal!
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De Maribel Maia a 04.12.2023 às 10:52

Doces memórias.... o melhor é mesmo fugirmos desta parte consumista que estraga a beleza do Natal!!!
Boa semana.
Beijinhos!!
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De cheia a 04.12.2023 às 15:09

Tão diferente, destes dias de desenfreado consumismo, de desperdício, de tanta coisa sem sentido.
Excelente partilha, Manu!

Beijinhos
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De Cotovia@mafalda.carmona a 06.12.2023 às 09:53

Bonito Natal, bonita escrita e o presépio uma memória delicada e maravilhosa.
É uma época complicada, apesar de apregoada como feliz, traz tanto de bom como de mau, como bem retrata este postal, que se lê num instante com imenso gosto.
Continuação de boa semana, Manu.
Beijinhos
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De imsilva a 06.12.2023 às 11:18

Pensava que tinha comentado
O Natal continua vivo e presente nestas tuas recordações, isso nunca vais perder. Vou por no rol dos contos de Natal, ok.?
Beijinho
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De solua a 07.12.2023 às 13:20

Belas recordações do Natal! Simples mas com um grande valor emocional!
Feliz Festas e vamos tentar deixar boas memórias…
Beijinhos
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De José da Xã a 17.12.2023 às 22:51

Esse sim é que era o verdadeiro Natal!
Hoje é uma coisa quase insípida!
Almoços e jantares de Natal com colegas, umas trocas de prendas foleiras e está feito.-
Em casa já não há pais velhos (entregaram-se num qualquer hospital, com uma hipotética dor!) e as crianças vão brincar para o quarto.
Ou então ficam a brincar com a nova PS! (Estão tão sossegados!)
Gostaria de um Natal sem televisão, telemóveis ou outros periféricos.
Preferia contar uma estória de Natal! ANtigamente fazia isso mas olhavam-me de lado à mesa.
Deixei de o fazer!
Bonito texto!
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De Olga Cardoso Pinto a 18.12.2023 às 18:39

É bom recordar tempos de infância em que tudo era mais simples, sincero e inocente. Podia não haver muitos presentes, nem iguarias, mas dava-se muito valor ao que se tinha, bastava um saquinho de bombons que o Natal já era feliz. E também eu fiz assim o presépio
Gostei muito.
Tudo de bom.
Bjs
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De Tay a 02.01.2024 às 21:49

Olá!

Gostei muito do teu blog!!
Bom Ano!

Até breve!

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