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"A maturidade permite-me olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura." (Lya Luft)
Sempre que chega o Natal, não resisto a comparar como se vive hoje e como o vivi quando criança.
Hoje posso dizer que é uma época que me incomoda, que não sinto nada em especial.
Por aqui deixaram de existir os elementos aglutinadores mais importantes , para que se viva esta quadra em pleno, ou seja , a família, uns já partiram para sempre e outros quis a vida que seguissem outros caminhos bem distantes do meu.
Hoje abomino o consumo desenfreado e as multidões que se acotovelam nos centros comerciais para escolherem prendas para dar a alguém que também vai dar, para se enfeitar uma árvore que se deseja bem recheada de papéis e laçarotes coloridos que se rasgam avidamente numa noite em que a maior parte das pessoas nem sequer sabe o que se comemora, embora eu ainda ache maravilhoso o sorriso das crianças que recebem aquele presente tão desejado.
Há uns largos anos atrás, eu e os meus três irmãos, não tínhamos árvore de Natal nem se falava que naquela noite um senhor de barbas brancas desceria pela chaminé para entregar presentes, porque não havia dinheiro para presentes.
Para nós quatro a maior alegria era quando decidíamos fazer o presépio. Com uma cesta íamos ao musgo e ao barro e laboriosamente fazíamos e desfazíamos cada uma das peças que se iam quebrando quando o barro secava.
Algumas pedras eram cobertas de musgo a fazer de montes, a cabana e a manjedoura eram improvisadas com restos de palha.
Discutíamos qual a melhor posição para os pastores, as ovelhas e galinhas. Desenhávamos com areia fina os caminhos e o regato era uma folha de papel azul, onde obrigatoriamente teria de ser construída uma ponte em barro. A estrela por cima da manjedoura completava a nossa obra de arte.
Todos os dias mudávamos os bonecos de sítio porque achávamos que estavam cada vez mais próximos. Todos os dias reconstruíamos a ovelha que tinha ficado sem pernas, ou o pastor que se tinha partido ao meio.
Na noite de Natal, vestíamos as melhores roupitas, íamos à missa do galo, (dois quilómetros a pé), bem contentes porque no caminho encontrávamos os nossos colegas e apesar de ser de noite a estrada ganhava vida com o falatório das crianças e dos crescidos.
Todos ansiávamos pelo momento mais importante , aquele em que em fila, íamos beijar o Menino Jesus.
Regressados a casa e junto á lareira, onde tinham ficado a levedar a massa das filhós, a avó e a mãe encarregavam-se da parte doce da noite.
Eu como mais velha estava encarregue de as envolver com açúcar e canela e de lambuzar os dedos naquela mistura açucarada.
Um chazinho bem quente aconchegava-nos o estômago e dormíamos como anjos, não sem antes combinarmos que no dia seguinte teríamos de fazer os reis magos que tinham chegado atrasados.